segunda-feira, 15 de maio de 2017

#41 - E se eu não me lembrasse de ti?

É como se me faltasse algo todos os dias, e porra, não conseguia descobrir o que era.
Levantava-me da cama, tomava o pequeno-almoço, vestia-me. Estava tudo tão vazio, tão oco e eu queria algo mais.
A procura começou.
A princípio pensei que fosse um objecto, por isso fui a lojas, montes de lojas. Roupas, objectos para casa, comida. Tudo e mais alguma coisa, mas no fundo coisas que sempre quis e precisava. Senti-me melhor, mas essa sensação foi-se desvanecendo.
Se calhar era animação. Talvez um cão ou um gato. Porque não ambos? Não, apenas gatos. Num apartamento é melhor assim. E então, porque não um gato e uma gata? Okay… De mães diferentes, é claro, apareceu a Kelly e o Xico. Lindos!
Uma trabalheira do diabo no início! Só faziam asneiras, arranhavam tudo e tinha que os levar ao veterinário várias vezes. Felizmente acalmaram… até a Kelly ter o seu primeiro cio e ficar louca!
Para minha felicidade, com tantos os berros deles o dia todo, ela não engravidou. Acontece. E neste caso isso foi óptimo para mim, estava a precisar de sossego, era mesmo de sossego que mais precisava, e não animação.
Mas continuava a faltar algo…
Passaram-se uns meses… Estávamos a começar o outono, e ainda não tinha tido a necessidade de vestir mais um casaquito nem nenhuma camisola mais grossita.
Caminhava para o trabalho, depois de um estacionamento fácil. Quebra de pernas, tremelicavam tanto quando o vi. Céus!!! Não foi fácil disfarçar. O que raio acabou de acontecer? Passou mesmo por mim e eu vacilei. Já se passaram anos e anos desde que isso não me acontecia. Não faço ideia de quem seja, mas era mesmo giro, pena que tinha anel de comprometido…
Não consegui tirar o rapaz do meu pensamento o resto do dia, nem tão pouco o resto das semanas que se sucederam. Provavelmente se eu contasse às minhas amigas elas ou iriam fazer um grande, grande filme, ou quando lhes dissesse quem era o rapaz, (isto é, se o voltasse a ver) nem o iriam achar tão giro como eu achei.
Lá acabei por contar a uma colega de trabalho, uma amiga e a partir daí, sempre que me perguntava por ele, apelidava-o de “jeitoso”. Nessa sexta convidou-me para ir sair com ela, irmos jantar e irmos até algum bar, algo soft, e na dúvida, ainda a medo, lá aceitei.
Fui para casa como habitualmente e arranjei-me, o máximo possível sem exageros. Já não saía a muito tempo. Vestidinho justo nas mamas e o resto solto o suficiente; cabelo ondulado, mas com uma trancinha a volta da cabeça; maquilhagem que passava despercebida; sapatilhas, nada de salto alto, senão passados 10 minutos já me estaria a queixar e isso não me tornaria mais confiante, por isso sapatilhas.
Ao chegar ao restaurante, depois de ela me ter vindo buscar, percebi que afinal tinha lá algumas amigas minhas no grupo. Fiquei felicíssima, já não conseguia sair assim e estar com elas à muito tempo. Que saudades! Foi um jantar mesmo intenso e alegre!
Após jantadas, fomos até um bar do outro lado da rua do restaurante. Fomos todas! Para minha surpresa tinha lá dois ou três amigos meus, e os namorados das minhas amigas estavam lá todos. Não conhecia nenhum. Era impressionante como todas tinham namorados e eu nenhum.
Depois do pequeno acidente, em que perdi parte da memória, não me apresentaram ninguém, as pessoas iam passando por mim, sendo amigos ou familiares e os que reconhecia falava, e os que não, ficavam desfeitos por não me lembrar. Insisti para que me apresentassem todos os que não me lembrava, mas nunca o fizeram. A memória tinha de voltar, mas nunca voltou.
Encolhi-me a um canto enquanto os casalinhos iam dançando. Observei cada canto da casa e fiquei rendida, era bonito, nada de berrante, e tinha o seu charme/romance. Quando o avistei. Lá estava ele outra vez, tanto tempo depois! Já tinha perdido a esperança de o voltar a ver. Estava sentado numa mesa no balcão, aparentemente sozinho. E eu queria uma bebida, ou pelo menos, os calores pediam isso. Estava aterrada de medo! Mas fui, fui com a força toda que me mantinha ainda de pé.
“Um whisky cola por favor!”, pedi, mesmo por detrás dele, já que estava sentado de lado. O jovem trouxe-me e eu caminhei de volta ao meu cantinho, perplexa por não lhe ter conseguido ter dito nada, nem um toquezinho de atenção.
“Onde vais com tanta pressa?”. Parei e não consegui dizer uma palavra que fosse. Ele estava parado a minha frente, com um sorrisinho de fazer perder a cabeça. Tirou-me o copo da mão, puxou-me para ele e pôs-nos em posição de dança, com os meus braços em volta do seu pescoço, e as dele em volta das minhas costas. Chegou-me bem para ele, e não sei como dançámos, tao lentamente quanto aquela música pedia, e os meus nervos estavam prestes a explodir. Mas o fim da música chegou e paralisei.
“Queria tanto que te lembrasses de mim! Sinto tanto a tua falta! Amo-te!”. Quê???
Ele largou-me e foi embora, por entre as pessoas que lá dançavam. Tentei fixar-me no que ele dissera, na sua expressão e na sua mágoa.
Corri. Corri atrás dele, o mais rápido que pude.
Lá estava ele, ao lado da porta, encostado a parede olhando as estrelas. Uma súbita força e coragem apareceu e lá fui eu. Atirei-me a ele, apanhando-o desprevenido e beijei-o! Retribuiu num segundo.
PUM! Memórias e mais memórias surgiram! Fiquei tonta e aconcheguei-me no seu abraço. Sabia agora o que me atormentava, o que me fazia falta, à tanto tempo. Como era possível que não me lembrasse do meu próprio namorado?
“Desculpa ter-te feito esperado tanto tempo. Desculpa não me ter lembrado de ti e de nós. Não sabes à quanto tempo andava a tentar perceber o que me fazia falta. E esse alguém és tu! Amo-te!”.

#40 - já se passou tanto tempo...

Olá. Como estás? Como tens passado?
Por favor, conta-me mais coisas sobre ti. Perdi-te tanto e preciso de ti mais uma vez.
Sempre foste mais, marcaste-me tanto, com tanta força que me impedia de respirar e punha as pernas a tremer.
Não, não foste o único que me fez ter as pernas a tremer, houve apenas um antes de ti, e depois de ti nunca mais me fizeram sentir o mesmo.
Gostava de te ver agora. Já se passou tanto tempo e acho que, estando tu mais crescido e diferente, eu voltaria a encontrar-te no meio de uma grande multidão. Céus, gostava mesmo tanto de te voltar a ver.
Ainda és o mesmo? Será que ainda me conseguirias tirar o fôlego só de te ver?
Os teus olhos, o teu sorriso, a tua timidez misturada com o homem adulto que te tornaste, a lutar pela vida e pelo que realmente queres.
Podíamos ter dado tão certo!
Admito. Hoje, passado tanto tempo, estes aninhos, é das poucas vezes que me voltei a lembrar de ti. Não me julgues, pois eu lembrei-me e sei que por mais que ame outro, que esteja com amigos e que conheça mais gente, tu irás sempre ser tão especial. Era tão bom que continuássemos amigos e que estivéssemos mais vezes juntos! Mesmo sabendo que o sabor não ia ser o mesmo, e que nunca te tocaria ou abraçaria como alguma vez fui capaz de fazer.
Os tempos são outros. Eu cresci, aprendi tanta coisa, conheci tanta gente. E por mais que não me sinta mesmo, mesmo feliz, estou bem com quem estou e como estou. Ser rica dá sempre jeito, mas não o sou.
Espero mesmo que consigas ser feliz e alcançar todas as tuas metas. Ainda temos uma longa vida pela frente, mesmo que seja por caminhos separados!
Demorei a entregar-me a outra pessoa, mas cá estou eu, de corpo e alma, toda a ele. Espero que um dia encontres alguém assim, tal como eu encontrei!

#39

A vida dá-nos tanto, mas levamos tão pouco dela.
Começamos com tão pouco, um grito sufocante no grande vácuo, no escuro, sem sabermos para onde vamos e o que vamos fazer. Aos poucos vamos sabendo o que nos rodeia. Os sons são tantos que não sabemos por qual prestar atenção! Uma luz. Tudo começa a ficar lentamente mais claro e começamos a focar-nos em algo, ao que penso ser a progenitora, naquele colo quentinho e satisfatório. Varias mãos e vários processos. Mas só queremos o que nos faz sentir bem e sentir protegidos, certo? Por mais que muitas vezes a progenitora não nos queira, e que provavelmente um aborto ou um preservativo tivesse-nos salvo de tanta coisa.
Mas se aconteceu é porque tinha algum motivo de ser.
A nossa fúria começa, começamos logo desde cedo a querer mais. Começamos a querer correr, sem mesmo saber se há alguma possibilidade disso ou se o nosso corpo sequer aguentará. E fome. A fome a séria começa, queremos tudo e não comemos nada. Queremos o que nos traga felicidade, tal como os brinquedos, só para os ter e não para realmente lhes dar uso. As crianças podem ser tão idiotas. O que na verdade (às vezes), ainda acho que sou uma. Tão pequena, inútil e insegura, a querer mimo, atenção e protecção.
Escola. Regras que não queremos. Tanta coisa para fazer e aprender, e tanto mais só para brincar. As crianças são tão cruéis.
O tempo passa e chutamos pedras pelo caminho.
O primeiro “não” à seria, o primeiro amor, o primeiro coração partido. Porquê que não nos é explicado que o coração pode quebrar mil vezes e da mesma forma, voltar a juntar-se, pedacinho a pedacinho, com as mais diversas das coisas, acontecimentos e pessoas? Temos uma mente tão grande e profunda.
Trabalho. Faz isto faz aquilo. Sê amais isto, devias ser mais como “x”. Por um trabalho honesto, que ganhemos o suficiente para vivermos o quanto baste e para termos sempre os nossos direitos, sendo homem ou mulher. Ninguém mais do que ninguém.
Casamento. Ou não. Depende de ti e de outros. Até pode nem ser possível. Caso a caso.
Rotinas, tarefas. Tornamo-nos velhos, a cair de podre e cova.
Podemos querer e fazer tanto ao longo do nosso ser. Será que fazemos e aproveitamos o suficiente (todos os dias)?