sábado, 19 de julho de 2014

19# - ela sorria com o olhar...

Ela olhava para mim e eu sabia o que ela queria.
Os seus olhos estavam a tremer, tal como os seus lábios carnudos, havia um brilho no olhar, tão ou ainda mais cintilante que o meu. Ora essa, que parvoíce, ela estava-me a sorrir com o olhar, e ora bolas, como era lindo!
Levantei-me, preparado para dar o primeiro passo, mas nesse momento, apenas sorrindo entre lábios, ela sentou-se. Não me mexi um centímetro que fosse, fiquei a admira-la ao longe, enquanto os meus amigos falavam sobre banalidades, neste caso sobre a música que o DJ estava a passar, que achei realmente boa para o momento que estava a passar com Ela.
Sorri-lhe de volta e encostei-me à parede, levando uma e outra vez o copo à boca. Ela estava à espera de quê para me deixar ir cumprimenta-la?
A luz que incidia sobre ela era perfeita, ela tinha escolhido o sítio perfeito para ficar naquela noite. A sua pele reluzia de uma forma tão bela que mais que uma vez cheguei a duvidar se tudo aquilo que estava a captar era uma pura ilusão ou a mais bela das realidades.
Passei a mão pelo cabelo apressadamente, enquanto me sentava para jantar, de seguida a mão passou pela testa que começara a suar de tanto calor presente no salão, seguiu-se a mão direita a passar pelo braço esquerdo e por fim as minhas mãos uniram-se. Ela olhava para mim de forma curiosa, sempre atenta, a mim e às amigas que a acompanhavam no jantar.
“Posso ir à tua beira?”, perguntei entre lábios olhando-a atentamente, “Não”, respondeu-me, baixando o olhar.
Mais cedo ou mais tarde iria à sua beira, nem que fosse na última dança da noite programada pelo Castor, mas certamente que eu iria ter com ela.
Voltei a olhá-la de leve, ela estava completamente colada nos meus braços, cujos breves músculos se notavam por causa da força que comecei a exercer sobre mim próprio à custa de pensamentos, pensamentos esses que só nos envolviam a mim e a Ela.
Soltou uma breve risada para as amigas e vi-a desfazer a trança comprida que passava pelo lado esquerdo do seu ombro. Levou a cabeça às pernas e sacudiu o cabelo, e meu deus, ainda ficava mais bonita assim, com o seu cabelo comprido a passar-lhe pelos ombros, braço, seios, barriga e anca. Tinha um cabelo ondulado enorme castanho chocolate, que combinava na perfeição com os seus olhos verdes água.
Como é que eu me estava a apaixonar loucamente por ela? Como e Porquê?
A risada alta dos meus amigos soou aos meus ouvidos e vi-me obrigado a prestar-lhes um pouco de atenção, até porque mereciam muito mais do que só um pouco de atenção da minha parte.
Ouvi tudo o que tinham para dizer durante aqueles dez minutos que me pareceram duas horas sem poder olhar na direcção dela. Pus-me dentro da conversa, voltei a encher o copo e risadas gerais. Estavam todos muito bem-dispostos e visivelmente bem arranjados, bonitos…mas precisava outra vez de olhar para ela.
Sorriu-me de leve assim que viu o meu rosto virar-se na sua direcção e voltou a sua atenção de novo para o empregado que estava a falar com ela sobre algo que não consegui perceber.
“Está na hora, vamos embora”, os meus amigos disseram-me de forma divertida, tanto quanto eles próprios já estavam. Mas o meu divertimento e alegria passaram de mil para zero, ainda nem lhe tinha dito olá pessoalmente. Eu só pensava “não, ainda não está na hora”, mas não disse nada disso, aliás, nem falei sobre isso.
Olhei tristemente para a sua mesa e surpreendi-me quando já não a vi na mesa, nem a ela, nem às amigas ou bolsas. Ela tinha ido embora sem sequer me dizer adeus.
Levantei-me, pronto a ir para casa “Vá, vão lá sair que eu vou wc e depois vou para casa”, disse, despedindo-me de cada um deles.
Fui a marcha lenta para o wc e só aí consegui reparar que o salão de jantar estava cheíssimo, mas por sorte, o wc encontrava-se quase vazio. Fiz o que tinha a fazer e fui à mesa pegar no casaco que me tinha esquecido anteriormente.
Umas mãos suaves taparam-me levemente os olhos, e sem me aperceber estava-me a encostar a ela, sim, porque eu sabia que era Ela. Virei-me e aí tive a certeza que era ela. As minhas mãos passaram de forma carinhosa nas suas bochechas, lábios e acabando a dar-lhe a mão puxei-a para mim, ficando os nossos rostos a milímetros de distância.
Era a hora certa para irmos dançar, e fomos, dançar, muito calmamente, colados um ao outro, em que os nossos olhares se juntaram e os nossos lábios por fim se uniram. Naquele momento tive a certeza que era Ela que eu queria comigo até ao meu último dia.
Ela, sem nome ou palavra trocada, disse-me que achava o mesmo, apenas sorrindo com o olhar.

Ana Coelho.

sexta-feira, 4 de julho de 2014

18# - verdade ou ficção...

“Eu ouvia gritos na minha cabeça, parecia que vidros se estavam a partir mesmo atrás de mim, sentia os braços presos como se me estivessem a agarrar e magoar, a garganta estava espessa devido ao sangue que por ela escorria…
Mas o que poderia estar a acontecer? A única coisa que me lembrava era de me ter deitado na cama ainda despida depois do duche e de estar com uma calma que me segurava com força para não cair. Mas de repente estava presa a isso, a este terror que não sabia lidar ou compreender.
-Deixa-me sair daqui! O que se está a passar comigo?
Eu gritava, pelo menos o meu instinto ou sentidos mentais mostravam-me que estava a gritar em pensamentos.
Sentia os olhos a rasgar, mas depois de tanta dor consegui abri-los finalmente. Era estranho, mas via tudo búzio à minha frente, algo parecido com uma praia em que havia um grande castelo de areia meio destruído, em que essa praia tinha pouco luz.
-Onde estou? Por que estou aqui?
Mais uma vez tentei gritar a plenos pulmões, mas a única coisa que sentia a sair da boca era o sangue fervente.
Tentei sem resultado piscar os olhos para ver claramente, mas voltei a ficar com eles fechados, senti o meu corpo ficar preso ao chão com tanta brutidão que quase senti os ossos a estalarem sobre mim. A minha pele começou a queimar, os braços senti que estavam a ficar mais apertados, a garganta a entupir, milhares de vidros a cair sobre mim…
PUM! Acordei daquele espécie de transe, e que nojo de mim. Corri para o wc e vomitei tudo o que tinha para sair.
Sangue saiu também, será que não tinha sido só um pesadelo?”

Ana Coelho*